27 de dezembro de 2008

A (minha) causa de criar poesias…

Hoje, quando adormecer, nem que seja só amanhã, vou ter um sono tranquilo, sereno, feliz. Por enquanto, recordo aquilo que li há pouco e, tendo a minha memória dúvidas sobre alguma parte do que li, vou procurar tornar a agradar os meus olhos com aquilo que li, pois foram boas palavras. Foram palavras bem aproveitadas e saboreadas por mim, deixadas no papel por alguém que não as criou, mas que tem o seu muito bom jeito para as ligar e lhes dar seguimento e sentimento.
Vou pensando. Vou lendo e lembrando. Vou lembrando, pensando e relendo rápida e passageiramente o que acabei de ler.
Com a visão semi-fixa nestes bonitos trechos de poesia e com a outra metade do olhar voltada para o meu interior, lembro nomes, puras e portuguesas ligações a esta acção lírica. Lembro-me de gente como Pessoa, Torga, Camões, Florbela Espanca, Luís Represas, Rui Veloso, Pacman, Mafalda Veiga, a pessoa que escreveu estes (e outros) poemas – Sim, tu mesma, Luzia… Tantos já viveram, outros tantos ainda vivem e viverão, mas em todos são imortais e majestosos os seus feitos realizados a tinta e papel. Realmente, um poeta vive sempre e maravilhosamente nas suas estrofes e rimas.
Faço-me pensar. Paro de ter ideias malucas. Não julgo! Estou certo! Afianço à minha própria consciência que não se criaram poetas por haver necessidade de existirem algumas pessoas imortalizadas no tempo pela lembrança dos seus actos. Caso eu esteja errado e haja essa necessidade, temos os nomes e as acções de reis, governadores, cientistas, tiranos, revolucionários, humanitários e futebolistas. Os poetas são gente de corpo e membros, sem poder de controlo ou de mudança sobre o que é físico no mundo, providos de pensamento, visão e capacidade de melódica constatação sobre tudo o que lhes pode ser contactado pelos sentidos. A ciência do poeta está em ver, tocar, observar e sentir para escrever sobre tudo, até mesmo o que não consegue sentir. Ele desvenda versos novos, ligando-os para criar rimas, dando música a qualquer coisa a que queira dar uma música, tentando-a tornar irresistivelmente imortal.
O escritor que cria poesias vê as coisas e os seres e não os altera nem pretende alterar com a sua lírica. Somente quer rabiscar, esboçar, imaginar um objecto mais bonito, um sentimento menos disfarçado, uma situação melhorada. Sempre e em todos os casos, a sua escrita revela algo nunca perfeito, pois que para ser perfeito teria de ser da comum afeição de todos.
O poeta não se faz mais ou menos humano por meio da sua poesia. Como homem (ou mulher) que não deixa de ser, vivendo e sentindo, não pode só sofrer ou chorar. Quase sempre, ele deixa o seu sofrimento, o seu choro, medos e mágoas de si impressionantemente e nitidamente marcados no canto poético que escreve, e não o faz porque quer deixar arder isso no silêncio do esquecimento, mas para se rememorar da essência humana que tem em si, porque ele também tem amigos e família e precisa deles para viver e, sem vida não há poesia.
O egoísmo poético é inigualável, implacável e inócuo. O poeta não se tem só a si mas só idealiza versos para si, a pensar em si mesmo, no seu bem-estar, zelando apenas pela paz dos seus próprios sentimentos. Exteriormente à sua pessoa, apenas se estima em guardar a integridade de fluxo de opiniões e atitudes próprias a cada outra pessoa.
O poeta quer-se ver lido, mas não é o seu maior desejo que percam muito tempo ou muita calma com as suas palavras. Somente anseia que desfrutem da musicalidade e ritmos embebidos nas suas asserções.

Por enquanto, é por isto que penso que um poeta cria poesias. Porém, não preciso pensar muito para saber indubitavelmente que a autêntica causa de criar poesias é deslumbrantemente mais complexa do que aquilo que apresento nestas linhas e para a qual ser poeta não deverá ser suficiente para a enunciar em completo.
Agora, preparo-me para ler uma última vez os bons poemas que me facultaram. Se tiver de ser poeta, o meu egoísmo fazer-me-á sê-lo de gosto inteiro. Mas, vou ler só mais uma vez estes versos para sonhar com coisas identicamente belas…