26 de fevereiro de 2011

O princípe dos anjos

Tinha eu 14 anos e alguns dias (ou já meses), e meti-me a escrever um texto apenas para mim, algo que não revelei (como fazia com outros textos dessa altura) a ninguém, algo que se queimou com um fósforo ao lume amarfanhado com outros papéis e textos. Foi um texto um pouco especial, um texto diferente. Hoje decidi ir relembrando esse texto e partilhar isso, porque tem o seu propósito.
Era um texto sobre um mundo aparte, um lugar confiscado aos outros, um sítio para mim, mas que não caracterizei como um mundo, que fiz por ilustrar de uma forma estranha, diferente, não a tentar ser original, apenas a dar aso e palavras a algo abstracto que me parecia fazer sentido na altura, e que me torna a fazer sentido agora.
Lembro de escrever ainda bastante sobre este assunto quando primeiro escrevi dele, sobre isto, os meus sonhos.
O texto, agora já queimado e esvoaçado em cinzas, só depois de completo obteve um título. Ficou chamando-se “O príncipe dos anjos”.
Pode parecer um título um pouco bizarro, depois de ser ler o texto e se ver que fala de sonhos e não de anjos, esse é um ponto de vista legítimo, respeitável (como é óbvio) e quase correcto. A estranheza do título ainda se mantém, embora mais ténue, mas o título apenas faz referência directa à analogia que o texto contém, e não ao que nele na verdade se fala.
Mais estranho será, julgo, um miúdo acanhado de 14 anos fazer analogias, ainda para mais sendo que compara anjos com sonhos. Sonhar era, acho, algo digno e perfeito para a idade na altura. Agora, já eu estou a chegar aos 22 anos e estou a ficar mais parvo do que já sou outra vez. Ou talvez não. Posso até ter tido alguma lógica na ideia de idiota que tive há uns anos atrás. Razão não tive, pois não há motivo que justifique esta minha escolha de escrita.
Porém, esta noite, decidi meter-me a estas belas horas da madrugada a escrever e a tentar explicar o que me passou pela cabeça em mais novo, porque pelos vistos tenho quem me leia, mas principalmente porque mudei aparência, título, frases e modos, numa transformação fantástica (para melhor, espero) motivada pel’“O príncipe dos anjos”.
Lembrando um pouco do tempo em que a origem deste preciso texto ainda era uma actividade ainda incompleta, recordo-me de não explicitar de imediato a minha analogia. Agora isso parece ser o mais apropriado a fazer em primeiro lugar, se não estiver para ser a única a explicitar.
Os anjos, estes, são meus, são os meus sonhos. Alguns, já nesta vida de cadeiras de Veterinária e de aventuras de adolescente, fazem para que venham a ser reais. Outros também, são para cumprir, felizmente, a seu tempo. Restantes são idiotices, coisas de um rapaz idiota, “abstractices” que duvido que venham a ser reais. Convenhamos que eu sou muito estranho, ainda mais quando estou bem acordado, a andar e a falar, no meio de outras pessoas.
Falando em pessoas, os anjos são figuras celestiais, as mais próximas de Deus, o católico, que se diz que nos fez à sua imagem e semelhança. Nós, pelo menos os católicos, conseguimos retirar desta teoria que tais criaturas teriam a nossa anatomia, ausência de roupa de marca ou de qualquer tipo de vestiário e voariam porque têm asas presas às costas, e que por isso são eles que nos encaminham aos mais divinos céus, mediante como tenham sido os nossos actos na terra.
Falando de mim, pensando para mim próprio, percebo, quero tentar deixar percebido. Os sonhos também voam, por céus como os esse onde voam figuras celestiais, esses céus, sem fim, sem início, sem localização específica alguma, sem tamanho preciso, a não ser que por muito curtas infimidades de momentos. Tão bem fica como um espaço grandioso, airoso, multifacetado, como nos serve melhor sonhar numa pequena dimensão, em quatro paredes, nem em quatro paredes, num infinito negro onde nada cabe.
Os anjos, alguns, têm nome, e não têm nenhuma roupa, e reconhecem-se, ou acho que, lá para onde estão, o devem conseguir fazer. Os sonhos, nenhum deles possui ou precisa de nome, conhecem-se todos muito bem pela sua essência, pela pureza do que são. Alguns têm um termo. Afinal, qualquer pessoa tem um “sonho de infância” que traz consigo até adulto ou, se não vier a ser concretizado, até morrer. Falta ainda “aquele sonho desde criança”. O meu… não o vou contar. Quero mantê-lo trancado em mim, forte em mim, a expandir-se, a querer sair e ser uma vontade, a fazer-me fazer por fazê-lo deixar-se de ser uma ideia fantástica para se tornar uma acto incrível e real.
Portanto, os sonhos, sem sabermos, voam e fazem-nos voar. Dão-nos vontade, expandem-se pela nossa mente, dão-nos ideias, dão-nos vida, alento para procurar uma vida melhor.
Pondo os pés de novo no chão, sinto que estou a ficar com frio. Devia ir dormir. Voltando a pensar nos pés no chão, não no frio deles, mas nos pés do Homem, estes põe-se a lado (e não acima) de patas, garras e rastos dos animais irracionais. Acima do que é terreno, ficam os tais que pensam e ponderam como os humanos, mas sempre na plenitude da perfeição, sem darem vós aos seus apelos.
De facto, sonhar também apela em vários sentidos, mas pelo menos em dois. Alegrias, amor, boas intenções, construções belas, magníficas, sabores doces, o gosto a rebuçados, cheiro de mais de mil e um milhão de flores, a fragrância de um cabelo, o sabor que sente a cada beijo de uma paixão, o calor e a perfeição de uma abraço certo, tudo o que nos faz adormecer melhor, que nos faz ter vontade de ter muitas horas para dormir, com que sonhámos uma, outra e outras tantas vezes, que queremos que saiam do sonho e venham connosco para a rua. Choros, gritos, balas a tratarem de mutilar, de matar, de magoar, de incapacitar, o cheiro da peste, a cor da morte, o fumo do sofrimento, a agonia dos desconhecimento e da perdição, são pesadelos, não queremos sequer pensar neles, mal acordemos a muito custo e com muita rapidez.
Estes últimos são os anjos maus. Eles vagueiam, e quando encontram, em geral, frágeis, doentes, sem forças, sem motivos, apanham-nos, seduzem-nos, prendem-nos, assustam-nos, dilaceram-nos artisticamente a alma antes do acordar. No Deus pai de Jesus Cristo, há um que aos seus filhos designou demónios, formas de homens abominados por quem é humano. Porque até as piores criaturas distinguem bem do mal, diferenciam-se anjos de demónios, procuram-se os sonhos e esforça-se por ter esquecidos os pesadelos.
Duvido que anjos tenham armas ou lutem sequer, nem que seja por uma boa causa, pois nunca sonhei com algo que me levasse a tomar uma atitude drástica perante a vida. Ou até talvez já tivesse sonhado, mas não interessa. Teve sempre um impacto delicado.
Os anjos estão prontos, feitos para guiar o Homem até ao infinito das suas capacidades, nessa sua vida limitada por anos de experiências várias e completa de pesares e prazeres, pêsames e deleites.
Quem comanda estas coisas celestiais, extra espaciais, subconscientes, também estará pronto para saber o que fazer delas.
Eu, o príncipe, não em qualquer título de realeza (e duvido muito que em beleza), sei o que fazer dos anjos, sei comandá-los, mas não a todos. Só aos meus.
Não mando, não sou, nunca serei, nem nunca quererei ser capaz de mandar nos meus sonhos. Isso seria algo próximo de algo bastante pior à paranóia, e eu sou feliz assim, não com pulso de ferro mas com brio de prata, a comandar os meus anjos, a levá-los a guiarem-me e fazerem-me ter bons objectivos, a mostrarem-me quando lúcida a realidade de realizar os sonhos é se soubermos escolher e se lutarmos, a elevarem-me nesse céu de relativa fantasia, numa mistura com uma dolorosa mas demais (muito demais) valorosa e grande jornada que, por bons e maus momentos há-de passar, acabando-me por chegar a paragens celestes onde o que acaba é o que está para começar…

Talvez outros príncipes de anjos (e princesas, pedindo desculpa às senhoras pela demora na menção de tão belo e virtuoso género), já tenham chegado a este sítio sem sequer terem chegado ao fim dos dias que lhes foram atribuídos. Talvez até eu já tenha lá estado algumas vezes… Todos nos sentimos bem quando estamos perto de algo bom, quando o caminho não acabou, mas o céu está a brilhar… Tudo está bem e não muda disso senão para melhor quando comandamos o que para cada um de nós é feito (por nós) e nos dá alento para sorrir…

Os sorrisos também são sonhos… São celestes, são anjos, são coisas intocáveis…

1 comentário:

  1. Disseste "Pode parecer um título um pouco bizarro, depois de ser ler o texto e se ver que fala de sonhos e não de anjos", se pensarmos que os sonhos vêm de cada de dentro, onde se centraliza o que realmente somos e sentimos, os sonhos podem perfeitamente ser como anjos porque são puros como eles, podem ter asas e voar e levar-nos com eles para terras inimagináveis, a nossa pequena terra do nunca. "Sonhar era, acho, algo digno e perfeito para a idade na altura. Agora, já eu estou a chegar aos 22 anos e estou a ficar mais parvo do que já sou outra vez. " Nunca digas isto, sonhar é digno de qualquer idade, todos temos sonhos e alguns são só nossos. Não ficas parvo por sonhar (mas sim por me chamares devassa --' lol)
    E..uma última coisa..nós não comandamos os sonhos mas ajudamos a que eles se concretizem porque..(e novamente fazendo referência a fontes externas).."Eles não sabem, nem sonham,

    que o sonho comanda a vida,

    que sempre que um homem sonha

    o mundo pula e avança

    como bola colorida

    entre as mãos de uma criança."

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